O presidente chinês, Xi Jinping, embarca nesta quarta-feira em uma viagem à América Latina, onde participará da 31ª Reunião de Líderes Econômicos da APEC em Lima, capital do Peru, e da 19ª Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, no Brasil, e fará visitas de Estado aos dois países.
Enquanto ele viaja a metade do globo, o mundo testemunha uma série de caos e desafios sem precedentes e entrelaçados: crescimento econômico sem brilho, aumento do protecionismo comercial e conflitos regionais prolongados. Essas crises prementes exigem unidade global, determinação e, acima de tudo, ações eficazes.
Espera-se que a visita de Xi impulsione os esforços da China com as nações latino-americanas para construir uma comunidade com um futuro compartilhado, reforçar a cooperação na Ásia-Pacífico e renovar o compromisso do mundo de melhorar a governança global para um mundo multipolar igualitário e ordenado e uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva.
NOVOS MARCOS
Nas últimas três décadas, a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, ou APEC, tem impulsionado o rápido desenvolvimento da região, transformando-a em uma potência para o crescimento econômico mundial, uma âncora de estabilidade para o desenvolvimento global e um precursor da cooperação internacional.
Como disse o presidente Xi, desde o estabelecimento do mecanismo de reunião regular dos líderes econômicos, a APEC tem sempre estado na vanguarda global da abertura e do desenvolvimento. Tem desempenhado um papel robusto na promoção da liberalização e facilitação do comércio e investimento, crescimento econômico e progresso tecnológico e fluxo de bens e pessoas na Ásia-Pacífico. Tem ajudado a criar o "milagre da Ásia-Pacífico", que vem surpreendendo o mundo.
Como o mecanismo de cooperação econômica de mais alto nível, mais amplo e mais influente na região da Ásia-Pacífico, a APEC incorpora as profundas aspirações dos parceiros de construir juntos um futuro melhor.
A região da Ásia-Pacífico tem grande potencial econômico graças aos seus ricos recursos naturais, turismo em expansão, mercados dinâmicos com forte poder de compra e economia digital em rápido crescimento. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional previu que a economia mundial crescerá 3,2% em 2024 e a Ásia emergente e em desenvolvimento deverá crescer 5,3% este ano.
Como Xi apontou, o desenvolvimento na região da Ásia-Pacífico tem sido alcançado não por provocar antagonismo e confronto, procurar uma política de mendicância entre vizinhos ou erguer cercas altas em torno de um pequeno quintal, mas por permanecer aberto e inclusivo e aproveitar os pontos fortes uns dos outros.
Em meio ao crescente protecionismo e pedidos de dissociação, o papel da APEC como um fórum multilateral dedicado à cooperação econômica é mais crucial do que nunca na promoção do diálogo, disse Hans Hendrischke, professor da Escola de Negócios da Universidade de Sydney.
VERDADEIRO MULTILATERALISMO
"'A cana-de-açúcar e o capim-limão crescem em aglomerados densos.' Este provérbio indonésio capta bem o valor da solidariedade. Divisão e confronto não servem ao interesse de ninguém. Somente a solidariedade e o desenvolvimento comum são a escolha certa a se fazer". Xi fez essa referência metafórica na Cúpula do G20 em Bali, em 2022, para exortar os membros do G20 a permanecerem comprometidos com seu propósito fundador de unidade e cooperação, levar adiante o espírito de solidariedade e defender o princípio do consenso.
Diante de uma economia global lenta, crises agravadas na segurança alimentar e energética, conflitos geopolíticos frequentes e um grave déficit na governança global, a próxima Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, com o tema "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável", não apenas responde ao chamado dos tempos, mas também reflete as aspirações de todas as nações.
Durante a próxima cúpula do G20, sua 11ª participação na reunião, Xi abordará questões-chave, como a construção de uma economia mundial aberta e a melhoria da governança global, além de elaborar as posições da China e oferecer as percepções e soluções do país.
No âmbito da cooperação do G20, a China tem, como sempre, se concentrado em questões de desenvolvimento. Na Cúpula do G20 em Hangzhou, em 2016, o desenvolvimento foi, pela primeira vez, trazido à tona dentro da estrutura da macropolítica global.
"Todos os membros do G20 devem assumir a responsabilidade inerente de serem grandes atores internacionais e regionais e devem dar o exemplo na promoção do desenvolvimento de todas as nações, melhorando o bem-estar de toda a humanidade e promovendo o progresso de todo o mundo", disse Xi na Cúpula do G20 de 2022, em Bali.
Desde ser a primeira a apoiar explicitamente a adesão da União Africana ao G20, até se esforçar para superar a "divisão digital" Norte-Sul, a China tem sempre contribuído para melhorar o sistema de governança global e aumentar a representação e a voz dos países em desenvolvimento.
O conceito de governança global proposto pela China atende às necessidades do novo ambiente econômico e de desenvolvimento, disse Dora Isabel González, uma estudiosa mexicana.
DESENVOLVIMENTO TURBINADO
O Porto de Chancay, 78 quilômetros ao norte de Lima, deve se tornar um novo centro de transporte marítimo conectando a Ásia e a América Latina, tornando a rota "Chancay a Shanghai" um verdadeiro caminho de prosperidade, promovendo o desenvolvimento comum da China e do Peru, disse Xi.
Abrangendo o vasto Oceano Pacífico, a China e o Peru têm uma amizade sincera e duradoura. Os dois países têm testemunhado uma cooperação econômica e comercial cada vez mais estreita, bem como intercâmbios culturais nos últimos anos.
O Peru é um dos primeiros países latino-americanos a estabelecer relações diplomáticas e uma parceria estratégica abrangente com a China.
É também o primeiro país latino-americano a assinar um pacote de acordos de livre comércio com a China. Enquanto isso, a China tem sido o maior parceiro comercial e o maior mercado de exportação do Peru por 10 anos consecutivos.
O Brasil, o segundo destino da viagem de Xi, é amigo de longa data da China. Os dois países têm feito progressos substanciais em seu relacionamento.
Como grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes, a China e o Brasil são bons amigos que compartilham os mesmos objetivos e bons parceiros que avançam juntos, disse Xi.
A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil há 15 anos consecutivos, enquanto o Brasil é o maior parceiro comercial da China e o maior destino de investimentos da América Latina.
Os dois países têm coordenado e cooperado estreitamente em plataformas multilaterais como as Nações Unidas, o BRICS e o G20, salvaguardando os interesses comuns de ambas as nações e dos países em desenvolvimento.
Há dez anos, Xi propôs pela primeira vez em Brasília a visão de construir uma comunidade China-América Latina com um futuro compartilhado, traçando o curso para o desenvolvimento das relações China-América Latina na nova era.
Ao longo dos anos, Xi tem se concentrado no futuro compartilhado da China e dos países da América Latina e do Caribe, trabalhando para um avanço constante nas relações China-América Latina com base na igualdade, no benefício mútuo e no desenvolvimento comum.
A cooperação entre a China e os países latino-americanos no cenário multilateral unirá e fortalecerá ainda mais os países do Sul Global, desempenhando um papel construtivo na abordagem de questões globais e na reforma do sistema de governança global, disse Patricio Giusto, diretor do Observatório Sino-Argentino.